"Os rankings das melhores escolas já são conhecidos. O melhor estabelecimento de ensino público aparece depois da 20.ª posição. As notas dadas pelos professores continuam a divergir dos resultados das provas nacionais. Há casos em que a diferença chega aos sete valores.
Não há uma única escola pública nos primeiros 20 lugares dos rankings feitos com base nos resultados dos exames nacionais. Nem no Ensino Básico, nem no Secundário. No ano passado, havia quatro escolas públicas nos 20 primeiros. Neste momento, apenas 10 públicas conseguem um lugar na lista das 50 melhores classificadas nas contas feitas pelo jornal Público. Na seleção do diário, feita com base nos resultados dos exames das oito disciplinas com mais provas, a Secundária Infanta Dona Maria, em Coimbra, está em 21.º lugar e é a primeira escola pública a aparecer. No privado, o Colégio Luso-Francês aparece à frente com uma média de 14,46 no Secundário e o Externato Nossa Senhora da Paz lidera a lista no Ensino Básico, com uma média de 4,04 valores em 5 nos exames do 9.º ano.
Os métodos variam. Na análise feita pela Lusa, que selecionou as 16 disciplinas com mais de mil exames realizados, o Colégio Internacional de Vilamoura surge como a melhor escola privada do país e a Secundária Infanta Dona Maria, em Coimbra, a melhor pública. O colégio situado em Faro tem uma média de 14,7 valores e a escola de Coimbra, que ocupa o 22.º lugar no ranking da Lusa, uma média de 13,5 valores em 634 exames realizados. Em segundo lugar, surge o Colégio Manuel Bernardes, em Lisboa, com uma média de 14,5 valores em 194 exames e o Externato Ribadouro aparece na terceira posição.
A segunda melhor escola pública, a Secundária Dona Filipa de Lencastre, em Lisboa, surge em 32.º lugar no ranking com uma média de 12,6 valores em 391 exames feitos. Coimbra foi aliás o distrito que registou a melhor média, ou seja, 11 valores em 7 903 exames, seguindo-se Lisboa e Aveiro, ambos com média de 10,8. Portalegre continua no fim da tabela com uma média global de 9,2. As raparigas continuam a ter melhores notas quer nos exames quer nos resultados ao final do ano.
No fim da tabela do ranking da Lusa, estão oito escolas públicas e duas privadas. A Secundária da Baixa da Banheira é apresentada como a escola pública com mais de 100 exames feitos com os resultados mais fracos - uma média de 7,7 valores. O último lugar pertence ao Conservatório de Música do Porto com apenas um exame com a nota de 3,6 valores, no nível Secundário, porque no Básico, o cenário muda de figura. Aí o Conservatório de Música do Porto surge como a terceira melhor escola pública portuguesa dos exames do Ensino Básico com uma média de 3,41. António Moreira Jorge, o diretor, realçou, em declarações à Lusa, que a disciplina e a postura que a música dá aos alunos desenvolve-lhes "competências" e "capacidades" nas outras áreas do saber. "Este ano, a escola registou 150 can didatos com seis anos, mas só foram selecionados 22 alunos, tendo a seleção sido feita com base nas aptidões musicais", referiu.
A Secundária Fonseca Benevides, em Lisboa, ficou nos últimos lugares do ranking dos exames nacionais. E teve a pior média do país: 5,3 valores em 22 exames realizados. Jaime Lourenço, diretor da escola, afirmou à Lusa que a posição "não é estatisticamente representativa do ensino ministrado". "Temos tido dificuldades em abrir turmas para o prosseguimento dos estudos superiores. No ano passado, só abrimos uma turma do 12.º ano e dessa turma apenas cinco alunos se apresentaram aos exames nacionais. Os restantes 17 alunos vieram à escola só fazer os exames", explicou.
Comparações de contextos distintos
Para Armindo Cancelinha, da Associação Nacional de Professores (ANP), os rankings compararam o incomparável. "Desde logo, os critérios definidos para o aparecimento dos rankings são muito subjetivos. Quando comparamos escolas públicas que recebem alunos de diversos estratos sociais com escolas que têm alunos com outro nível de nível, é uma comparação que não me parece muito séria", refere ao EDUCARE.PT. Na sua opinião, também não faz sentido comparar uma escola que teve 20 alunos a fazer exames com outra que teve mais de 700.
"Os rankings valem o que valem. Passam uma ideia errada porque não se joga com as mesmas armas. Os contextos são completamente distintos. E são os contextos que definem os textos", sustenta o responsável. Ainda assim, Armindo Cancelinha considera que os rankings têm vantagens. Não pela sua publicitação, mas sim pela oportunidade que as escolas têm, com os resultados nas mãos, de refletirem sobre a sua realidade e os caminhos a seguir.
O número de escolas com média negativa nos exames nacionais do Ensino Secundário voltou a aumentar este ano: um quarto dos estabelecimentos de ensino não conseguiram passar dos 9,5 valores. A média global das notas dos exames nacionais desceu ligeiramente de 10,48 para 10,3, mas a média global das classificações de final de ano aumentou de 13,36 para 13,41 valores. As escolas privadas têm uma melhor média nos resultados dos exames, 11,7, enquanto as públicas ficaram-se pelos 10,3 valores. As privadas têm também uma melhor média de classificações de fim de ano, de 14,4 valores, enquanto nas públicas esse valor ficou nos 13,3.
Apenas 171 escolas, num total de 1291, atingiram média positiva nas provas nacionais de Língua Portuguesa e de Matemática no Ensino Básico. Metade das escolas do Ensino Secundário teve média negativa no exame nacional de Língua Portuguesa B. As raparigas continuam a ter melhores resultados a Português e os rapazes a Matemática. O Colégio Oficinas de São José, em Lisboa, foi a escola com melhor desempenho a Português. O Colégio D. Diogo de Sousa, em Braga, teve a melhor média a Matemática.
No mundo da Matemática, o panorama não é animador. O número de escolas com média positiva nos exames de Matemática A caiu 25%, apenas 62% das escolas conseguiram ter mais de 9,5 valores. No ano passado, a mesma percentagem andava nos 87%. O colégio privado Valsassinam em Lisboa teve o melhor resultado. Coimbra é o distrito com melhores notas a Matemática A, Bragança foi o melhor em Matemática B e Leiria o melhor nos exames de Matemática Aplicada às Ciências Sociais.
Uma vez mais, as notas dos exames voltam a ser mais baixas do que os resultados obtidos na avaliação contínua. Uma em cada quatro escolas passou de notas internas positivas para negativas nos exames nacionais: 152 das 616 escolas que deram positiva aos alunos acabaram por ter médias abaixo dos 9,5 valores na primeira fase dos exames nacionais. Trezentas e vinte e quatro escolas, num universo de 616, tiveram uma diferença superior a três valores. As diferenças entre a avaliação contínua e o exame vão desde os 0,2 aos sete valores. As variações mais acentuadas foram sentidas no Conservatório de Música do Porto, que de 11 passou para 3,6, e na Escola Portuguesa da Guiné-Bissau, de 12 para 5,7.
O desinteresse dos alunos pode ajudar a explicar esta discrepância. "A avaliação, já no ano passado, não foi muito satisfatória, mas este ano foi mais alarmante. Não vou procurar a justificação menos plausível, mas tenho a certeza, porém, que, comparando a estimativa da avaliação interna com a externa, vamos encontrar sempre um desnível em quase todas as escolas", disse Wilson Barbosa, diretor da escola, à Lusa. E acrescentou: "Os alunos revelam pouca responsabilidade partindo do pressuposto de que já têm uma avaliação interna que os possa favorecer, mesmo tirando uma nota menos boa no exame nacional. Fazendo a aritmética ponderada, vai-lhes dar a passagem, mesmo com dez e muitos alunos deixam de se empenhar nos exames nacionais."
Só duas escolas das ilhas estão entre as 200 com melhores resultados nacionais do Secundário, segundo a Lusa. O Colégio do Castanheiro, em Ponta Delgada, obteve uma média de 10,8 valores e ficou em 186.º lugar no ranking. A Secundária Domingos Rebelo ocupa a 198.ª posição a nível nacional. "Quando estamos a julgar uma escola por uma determinada média podemos estar a cometer algumas injustiças em relação à descoberta dos responsáveis, porque não é possível fazer essa justificação de forma abrangente e justa." Esta é a perspectiva do secretário regional de Educação da Madeira, Francisco Fernandes. "Quando julgamos uma escola de uma zona desfavorecida não podemos estar a comparar com o resultado de uma outra de uma zona urbana, mais favorecida, porque os alunos tiveram outras oportunidades, tiveram computadores desde pequenos, bibliotecas e enciclopédias em casa, habilitações dos pais que ajuda", justificou o governante, em declarações à Lusa."
Texto partilhado de Associação de Pais do Alto do Lumiar
Noticia de Sara Oliveira (13-10-2011) publicada em www.educare.pt
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